Esse, sem dúvida, é um dos mais
importantes clássicos do cinema chileno. Dirigido por Cristián Galaz e contando
com um elenco muito interessante, El Chacotero Sentimental (O Coringa Sentimental)
foi um dos primeiros filmes da era pós-Pinochet a atingir relativo êxito no
cenário mundial, conquistando diversos prêmios nacionais (como em Viña del Mar)
e internacionais (Toulousse, Chicago, Bogotá, etc.).
O
filme é baseado em fatos reais e relatos difundidos no programa de rádio El
Chacotero Sentimental, sucesso na década de 1990. Rumpy (Roberto Artiagoitía) é
quem apresenta o programa de rádio e escuta os relatos de pessoas com conflitos
sentimentais ou problemas emocionais, que telefonam para o programa em busca de
conselhos ou para desabafar e relatar suas aventuras. O filme apresenta três
relatos diferentes de pessoas com diferentes níveis socioeconômicos.
A
proposta do filme é traçar uma pequena radiografia da sociedade chilena,
mostrando alguns dos dilemas morais enfrentados pelos personagens. O espectador
acaba sendo apresentado a uma sociedade com forte apelo sexual que entra em
constante contradição com certos aspectos conservadores que permeiam essa mesma
sociedade. É um filme com uma proposta ousada, mas que acaba pecando pela pretensão
e por difundir alguns clichês. Dos três casos apresentados, dois são de pessoas
de camadas menos favorecidas da população e um de alta classe média. Enquanto
nos dois casos o apelo sexual possui conotação positiva pela simplicidade,
leveza e aspecto cômico, o outro caso mostra um lado sombrio dessa mesma moeda,
quando duas irmãs se veem em posição antagônica devido a um caso de incesto que
perdura anos. Ou seja, o filme acaba flertando com uma dicotomia simplista
sobre o comportamento de pessoas ricas e pobres, algo que será desconstruído
anos mais tarde em filmes como B-Happy.
Acredito
ser um erro, classificar esse filme como sendo do gênero comédia. É um filme
que pode fazer rir, chorar e depois rir novamente, e o espectador deve estar
pronto para encarar esses momentos de “montanha russa” onde intercala-se a comédia
e o drama. É um filme que recomendo para quem tem interesse nas
produções da América Latina, especialmente por ser um clássico da década de
1990.
Nota: 5,0