O dinheiro cega. E o diretor
chileno Andrés Wood explora bem essa condição em La Fiebre del Loco, seu
segundo longa-metragem e filme que antecede o clássico Machuca.
A trama gira em torno da corrida
pela exploração de um molusco conhecido como Loco, na Patagônia chilena, que é
somente autorizada pelo governo em algumas semanas do ano. Com a liberação do governo para a atividade
extrativista, diversas pessoas afluem de várias partes do país em busca do ganho
fácil no pequeno vilarejo de Puerto Gala, alterando drasticamente a vida da
população local.
O filme consegue retratar de modo
bem interessante as mazelas e alterações locais decorrentes de uma corrida
brusca pela exploração de recursos naturais e o consequente “surto de progresso”
decorrente dessa atividade. Populações
locais, com seus modos de existência tradicionais encontram-se na perplexidade
de lidar com agentes do Capital internacional, comerciantes, golpistas,
prostitutas e tantos outros agentes que inundam locais onde se faz dinheiro
fácil. Por mais que nesse caso, o elemento explorado seja um molusco,
facilmente podemos traçar paralelos entre a perplexidade e miséria existencial
dos agentes envolvidos na busca pelo lucro em Puerto Gala e em outras situações
em distintos contextos espaço-temporais (como na Amazônia durante o ciclo da
borracha e na corrida do ouro em Serra Pelada). Acredito que, de fato, Andrés
Wood quis em seu filme ressaltar como o dinheiro e a possibilidade de fortuna,
nesses casos, tornam-se poderosos atores que agenciam e modificam a postura das
pessoas frente a suas crenças e seus modos de existência. O Capital degenera e
anula formas de existência que não se coadunam com a busca pela acumulação.
Longe de reforçar ou estabelecer
uma visão simplista e até dualista, muito comum e arriscada nesse tipo de
abordagem, o filme acaba tendo em seu âmago uma análise provocadora sobre o
poder transformador e destrutivo da lógica do Capital. É um filme muito atual
também, por evidenciar as misérias decorrentes da exploração de recursos
naturais no início do processo, onde surtos de progresso destroem modos de
vida, mergulha populações inteiras em miséria existencial, além de provocar
danos (por vezes irreversíveis) ao meio ambiente.
Nota 9,0