quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

No (2012)





             Chile, a alegria já vem! Esse poderia ser o principal nome do quarto longa do diretor Pablo Larraín (Fuga, Tony Manero, Post-Mortem [filme comentado aqui no blog]). No, vem sendo muito elogiado pela crítica e ganhou diversos prêmios internacionais como a quinzena de Cannes. Além disso, é o primeiro filme chileno a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

            René Saavedra (Gael García Bernal) trabalha em uma agência de publicidade, cujo dono é Lucho (Alfredo Castro), entusiasta do governo Pinochet. Quanto o governo decide instaurar um plebiscito pela continuidade ou saída de Pinochet e dos militares do poder, em resposta às pressões internacionais, Saavedra é chamado para fazer parte da campanha pelo “Não”, defendendo a volta da democracia e saída dos militares do poder. Lucho, por sua vez, muito próximo ao Ministério da Comunicação, acaba tornando-se líder da campanha publicitária em favor do “sim”, ou seja, pela permanência de Pinochet como presidente do Chile.

         O problema é que tanto René quanto Lucho sofrem com problemas semelhantes em ambas as campanhas. Os muitos partidos de esquerda envolvidos na campanha do “Não” ansiavam denunciar na propaganda diária de 15 minutos as violações aos direitos humanos cometidos pelos militares (o que na prática fomentaria medo às pessoas em comparecerem as urnas para votar contra o governo). Por outro lado, o Ministério de Comunicação subestimava a capacidade de articulação da esquerda e considerava suficiente uma campanha televisiva que mostrasse a prosperidade econômica conquistada na era Pinochet. René enfrentará diversos desafios para levar ao ar uma propaganda leve, para fomentar esperança e conduzir os indecisos e os que temem retaliações do governo às urnas para votar no “não”, enquanto Lucho fará o possível para convencer o governo do perigo e eficácia da publicidade adversária. Some a toda essa situação, um aparelho repressivo de Estado que continua operando no sentido de intimidar a oposição.

            O filme tenta retratar de maneira realista o drama que permeou a campanha pelo “não” de 1988. Essa opção pelo “realismo” é visível até mesmo no tipo de câmera usada na produção do filme, que é condizente com as usadas na década de 1980. Desse modo, a esquerda é retratada como uma colcha de retalhos onde os muitos partidos estão vivendo um misto de rancor e medo pelas atrocidades cometidas nos anos de governo Pinochet. Os militares, por sua vez, tentam intimidar a oposição por meio de perseguições, ligações anônimas, ameaças, mas uma certa letargia permeia as ações, como se os militares não acreditassem que a campanha do “não” teria sucesso. Tanto René quanto Lucho tentam vencer os sentimentos políticos envolvidos e fortemente polarizados para tentar angariar de maneira objetiva os votos da população. Ao final, o que temos é um filme muito realista e convincente sobre o processo de derrubada do regime militar no Chile e de um processo mais silencioso, que tem a ver com a produção de sentido e cultura pelos profissionais da comunicação com um pragmatismo de mercado. É um filme sobre a queda da ditadura, mas também um filme sobre publicidade e publicitários na política. Assim, “No” continua seguindo a linha dos filmes de Larraín no sentido de mostrar diversos lados que compõem um determinado evento, mesmo sob o ponto de vista de pessoas comuns ou aparentemente menos engajadas politicamente.      


Nota: 10,0