terça-feira, 1 de janeiro de 2013

La Fiebre del Loco (2001)


               

                 O dinheiro cega. E o diretor chileno Andrés Wood explora bem essa condição em La Fiebre del Loco, seu segundo longa-metragem e filme que antecede o clássico Machuca.

             A trama gira em torno da corrida pela exploração de um molusco conhecido como Loco, na Patagônia chilena, que é somente autorizada pelo governo em algumas semanas do ano.  Com a liberação do governo para a atividade extrativista, diversas pessoas afluem de várias partes do país em busca do ganho fácil no pequeno vilarejo de Puerto Gala, alterando drasticamente a vida da população local.

               O filme consegue retratar de modo bem interessante as mazelas e alterações locais decorrentes de uma corrida brusca pela exploração de recursos naturais e o consequente “surto de progresso” decorrente dessa atividade.  Populações locais, com seus modos de existência tradicionais encontram-se na perplexidade de lidar com agentes do Capital internacional, comerciantes, golpistas, prostitutas e tantos outros agentes que inundam locais onde se faz dinheiro fácil. Por mais que nesse caso, o elemento explorado seja um molusco, facilmente podemos traçar paralelos entre a perplexidade e miséria existencial dos agentes envolvidos na busca pelo lucro em Puerto Gala e em outras situações em distintos contextos espaço-temporais (como na Amazônia durante o ciclo da borracha e na corrida do ouro em Serra Pelada). Acredito que, de fato, Andrés Wood quis em seu filme ressaltar como o dinheiro e a possibilidade de fortuna, nesses casos, tornam-se poderosos atores que agenciam e modificam a postura das pessoas frente a suas crenças e seus modos de existência. O Capital degenera e anula formas de existência que não se coadunam com a busca pela acumulação.

             Longe de reforçar ou estabelecer uma visão simplista e até dualista, muito comum e arriscada nesse tipo de abordagem, o filme acaba tendo em seu âmago uma análise provocadora sobre o poder transformador e destrutivo da lógica do Capital. É um filme muito atual também, por evidenciar as misérias decorrentes da exploração de recursos naturais no início do processo, onde surtos de progresso destroem modos de vida, mergulha populações inteiras em miséria existencial, além de provocar danos (por vezes irreversíveis) ao meio ambiente.

Nota 9,0

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