sexta-feira, 8 de junho de 2012

Post Mortem (2010)




Não adianta, os chilenos sabem fazer (bons) filmes sobre o momento mais dramático de sua história recente. Bastante provocativo, Post Mortem, dirigido por Pablo Larraín, foi, e está sendo, muito aplaudido pela crítica mundial tendo conquistado prêmios nos Festivais de Veneza, Guadalajara, Antofagasta e outros. É um filme muito interessante para nós brasileiros que atravessamos tempos de “Comissões da Verdade”, espaço que infelizmente parece privilegiar a elucidação das mortes e desaparecimentos de militantes de esquerda, esquecendo-se de pessoas comuns (populações rurais, índios e etc.) que ignoravam ou desconheciam a existência do comunismo ou do mundo bipolar, e também sofreram ou desapareceram em conseqüência do regime militar. 

Mario (Alfredo Castro) trabalha como escrivão e auxiliar numa espécie de Instituto Médico Legal e é apaixonado por sua vizinha, Nancy (Antonia Zegers), que trabalha em um cabaré e mantém relacionamento liberal com um jovem militante de esquerda, que, por sua vez, usa a casa de Nancy como ponto de encontros da militância. Mario e Nancy são pessoas distantes dos acontecimentos políticos que tumultuavam Santiago no momento pré-golpe. Mario, em especial, sente-se deslocado (para não dizer enojado) quando o tema em sua roda de colegas é política. Nancy, por sua vez, detestava os encontros políticos realizados em sua casa. No entanto, certo dia Mario é surpreendido pelo som de tumulto na sua rua. Descobre que a casa de Nancy foi revirada e a mesma está desaparecida. É o início de sua busca por Nancy em meio a uma cidade vazia e desolada e um IML lotado de corpos que não param de chegar em caminhões militares.  



O evento do golpe militar praticamente não existe para os protagonistas, a não ser pelas suas conseqüências, sublinhando uma vez mais o quanto a política estava distante do universo dessas pessoas. O desaparecimento de Nancy, a cidade desolada, os muitos corpos espalhados pelos corredores do IML, a autópsia no corpo do presidente Salvador Allende, são algumas das conseqüências que trazem sofrimento e aflição para os personagens. Enquanto uns se desesperavam e enlouqueciam com a situação, outros muitos, como Mario, utilizavam da alienação como meio de sobrevivência buscando ignorar ao máximo a “chuva” de corpos no IML, incorporando e tornando verdadeira a frase sou funcionário e somente faço meu trabalho



Esse filme pode ser considerado uma obra-prima, tanto quanto uma pedrada na cabeça. Difícil não sair perturbado ou pensativo após assisti-lo. Mario é um personagem frio, solitário e com sérios problemas afetivos. Essa condição abre outra possibilidade de análise sobre o filme, mas prefiro deixar no ar para que vocês mesmos tirem a conclusão. É um filme para fazer pensar. Não espere por uma linda trilha sonora, pois o filme não tem musica e essa ausência é proposital, aumentando a sensação de vazio. É preciso senti-lo, e quanto melhor você sente, maior sua inserção na angustia que permeia a trama.   


 Nota: 9,5

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