quarta-feira, 4 de abril de 2012

Machuca (2004)


             Sou suspeito em falar sobre esse filme, afinal, foi o primeiro filme chileno que assisti, por acaso, por convite e insistência de um amigo. Fico feliz por ele ter insistido e eu, cedido à pressão, pois o que vi foi o que se tornou um dos maiores clássicos, se não o maior, do novo cinema chileno. Aliás, aprendi a gostar de cinema chileno a partir dessa obra. Dirigido pelo agora renomado diretor Andrés Wood, Machuca foi um dos primeiros filmes a abordar o delicado período pré-golpe de 1973 e conquistou importantes prêmios em Viña del Mar, Vancouver, Havana e um Goya, na Espanha.

          O filme conta a história da amizade entre dois meninos: Pedro Machuca, pobre, e Gonzalo Infante, rico, que se conhecem em um colégio de elite, beneficiado por um Programa audacioso promovido pelo padre McEnroe, diretor da instituição, que defendia a integração entre diferentes classes socioeconômicas, a começar pela oportunidade às crianças pobres de freqüentarem a mesma escola e espaço que as crianças ricas. A idéia desagradava a maioria dos pais ricos, principalmente num momento de turbulência social e política próprias do período pré-golpe.

        Machuca focaliza na relação mantida entre ambos e as descobertas, surpresas e desafios que enfrentam ao apresentar-se em mundos tão distintos em período de grave enfrentamento social. O que temos é a convulsão social e o golpe militar sob a ótica de duas crianças que encontram-se juntas no redemoinho dos acontecimentos. Longe de esboçar uma visão simplista ligada a inocência própria da infância, ao longo do filme, vemos o desconforto e até mesmo desaprovação de membros de ambas as famílias à essa amizade, que mesmo assim é tolerada, e a percepção de ambas as crianças que, vez por outra, lembravam-se de que lado da trincheira pertenciam quando em qualquer briga os adjetivos “pobre de merda” e “filhinho de papai” entrava em cena. Uma cena que traduz bem essa sensação de dificuldade ou impossibilidade de relação entre classes é o sorriso de Gonzalo Infante frente a passagem do avião-caça cortando os céus rumo ao horizonte e alguém ao longe balançando freneticamente a bandeira do Chile, representando o triunfo de uma classe social e visão de mundo sobre a outra. Por mais verdadeira e sincera que fosse a amizade, ambos eram representantes de pólos distintos em um período de ideologias extremas.

       As interpretações de Matias Quer e Ariel Mateluna, apesar de serem atores estreantes, são maravilhosas, constituindo um dos pontos altos do filme. A atuação da atriz Manuela Martelli como Silvana, a adolescente pobre que sempre acompanha a dupla, é um espetáculo à parte, consolidando a sua carreira como atriz e sua imagem no exterior. Eu já considero estes motivos suficientes para tornar esse filme imperdível. Além disso, é bom destacar que a história é uma ficção baseada em fatos reais vividos pelo próprio diretor e trata, ao meu ver, de maneira bem séria a complexidade política e social no momento do golpe de 1973.

Nota: 10,0

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